Vencedoras por Opção - Jim Collins & Morten Hansen

Título: Vencedoras por Opção
Autores: Jim Collins & Morten T. Hansen
Tradução de: Great by Choice
Editora: HSM
Ano: 2012
Páginas: 308
ISBN/EAN: 9-788565-482011

O prof. Jim Collins é acima de tudo um questionador.

Seus três principais livros - e agora esse quarto - tratam exatamente das respostas às suas perguntas, fruto de anos de pesquisas com empresas de sucesso, em comparação a outras de suas indústrias/setores.

Primeiro, Collins queria saber porque algumas empresas duram enquanto outras fecham as portas. Do resultado de anos de pesquisa nasceu seu primeiro best seller "Feitas para Durar", 1995.

Depois ele ficou curioso porque, dentre as empresas que perseveram, algumas tem performance muito acima da média do mercado. Anos de pesquisa se passaram e surgiu "Good to Great, empresas feitas para Vencer", 2002.

Intrigado com o fato de algumas empresas, tidas como excelentes, também acabavam por sucumbir, dedicou-se a estudar esse assunto e, como resultado publicou "Como as Gigantes Caem", 2010.

Consequência do livro anterior, Jim Collins questionava-se como algumas empresas seguiam crescendo a despeito dos contratempos, incerteza, crises, até mesmo caos e cresciam com consistência.

Dessa última pesquisa junto com Morten Hansen, temos "Vencedoras por Opção", 2011, já eleito o livro do ano 2011 por sites especializados.


Pois bem, segundo os estudos de Collins, vencer para as empresas é acima de tudo uma questão de Opção. Sim, opção. Opção por Disciplina.

Ele usa como exemplo e comparação a história da conquista do Polo Sul no início do sec.XX, quando duas expedições concorreram para primeiro alcançar o extremo sul do planeta, uma norueguesa comandada por Roald Amundsen, vencedora, e a outra inglesa, com Robert Scott à frente que não chegou nem ao Polo nem a sua casa com vida.
Ambas expedições tinham muito em comum: idade de seus líderes, experiências similares, restrições de clima, relevo, alimentação, conforto e comunicações. Mas uma terminou em sucesso e a outra em morte de todos seus integrantes. 

Estudando essa história e comparando performances de dezenas de empresas por décadas, Jim Collins concluiu que existem empresas que ele chama de "Empresas 10x", porque apresentaram performance em média 10 vezes melhor que suas concorrentes de comparação durante 15 anos ou mais, enfrentando períodos turbulentos, incertos ainda nos primeiros anos de empreendimento. Entre elas estão Intel, Microsoft e Southwest Airlines.

Conclusão de seu estudo, os autores desmentem alguns mitos e propõem alguns fatores-chave para o sucesso dessas empresas.

Alguns mitos quebrados:

1. Líderes de sucesso são visionários audazes e gostam do risco - ao contrário, os líderes "10x" foram/são mais disciplinados que audazes ou ariscados.

2. Inovação é a base do sucesso - evidente que ao longo de décadas, as "10x" tiveram momentos de inovação, mas em média não foram/são as referências em inovação de seus setores.

3. Decisões e Ações Rápidas - "correr ou morrer" não é o segredo do sucesso. As "10x" estão sempre de olho e percebem quando acelerar e quando segurar a velocidade. E isso nada tem a ver com decisões velozes, pelo contrário, com observação lenta mas constante e decisões consistentes.

4. Mudanças externas radiciais demandam mudanças internas radicais - ao contrário, as "10x" mudam paulatinamente, planejadamente, prevendo as mudanças externas e não reagindo.

Ok. Mas como então essas empresas chegaram lá?
O primeiro passo é a Liderança. Os "Líderes 10x" tem 4 características fundamentais:

1. Disciplina Fanática - são consistentes em valores, metas e desempenho. São incansáveis e inquebráveis, quase que monomaníacos. Note que Disciplina Fanática não é o mesmo que arregimentação e obediência cega. Tem independência mental, mas consistência.

2. Criatividade Empírica - diante de crises, não recorrem a opiniões ou conselhos. Conferem eles mesmo o que está acontecendo e testam eles mesmos soluções. Decidem sobre evidências tangíveis.

3. Paranoia Produtiva - são hipervigilantes. É justamente quando tudo anda bem que eles buscam por problemas à frente. Canalizam esse medo para precaução e medidas preventivas, prevem "10 das próximas 5 crises".

4. Ambição - na verdade paixão. Canalizam o ego para uma causa, nunca seu benefício próprio direto (muito alinhado com os "Líderes Nível 5" que Collins sempre advoga).

Note que, ao contrário do folclore popular, os "Líderes 10x" não são: mais criativos, mais visionários, mais carismáticos, mais ambiciosos, mais sortudos, mais ariscados, mais heroicos nem mais propensos a movimentos grandes e audaciosos. Pelo contrário, são muito mais reservados e autocríticos, mas acima de tudo prevenidos e disciplinados.

Veja na história de Amundsen vs Scott alguns exemplos de "Liderança 10x" na prática do norueguês:

. Disciplina: Amundsen definiu (calculou) que progrediria 20 milhas (~32Km) por dia rumo ao Polo e manteve o ritmo em toda a jornada. Nos dias bons, em que poderia ter progredido mais, parou e fez a equipe repousar, pois sabia que essa energia faria diferença nos dias de tormenta. Aprendeu com os esquimós a progredir sem cansar. No frio  polar o suor vira gelo. Aprendeu com eles a usar trenós de cães, a comer carne crua de golfinho. E treinou isso, antes. Scott preferiu usar tração de pôneis que logo morreram de frio (suor congelado) e fome, já que não são carnívoros e não existe pastagem no Polo. 

Vantagens da "Marcha de 20 milhas": gera confiança, autodisciplina e autocontrole e reduz efeitos negativos em crises. Tem marcos bem claros, é auto-imposta portanto menos dolorosa.

Criatividade Empírica: "Primeiro balas de revólver, depois de canhão".
Antes de se ariscar e consumir grandes recursos (bala de canhão), Amudsen testou técnicas e recursos mais baratos (bala de revolver). Igual fazem as "Empresas 10x", testes quase imperceptíveis e econômicos para perceber a reação do mercado consumidor, calibrar a pontaria para depois dispararem produtos custosos. Amundsen testou comer carne crua de golfinho, treinou comandar trenós, etc. Scott foi ao frio Antártico com trenós a motor nunca testados naquelas condições, igualmente tinha pôneis usados na Sibéria (onde existe pastagem e forragem estocada). Ambos falharam e teve de usar "tração humana" nos deslocamentos.

Paranoia Produtiva: Amundsen demarcou o caminho à medida que avançava, pois sabia que estaria mais frio na volta. Deixou depósitos de suprimentos demarcados com altos mastros em intervalos de distância regulares e ainda super dimensionou os suprimentos que levou: 3ton para 5 homens, além de equipamentos reservas para tudo. Scott levou tudo no limite: 1ton para 17 homens e um único termômetro. Ironia, quando localizado seu corpo meses depois, Scott que morrera de frio e fome estava a poucos quilômetros de um dos depósitos (não utilizados) noruegueses. Amundsen chegou ao Polo e regressou estritamente dentro de sua previsão e ainda lhe sobraram suprimentos.
Collins (alpinista) também conta a história de duas expedições ao Everest em que uma terminou em tragédia. Um dos fatores de sucesso da sobrevivente foi o fato de levarem "cilindros de oxigênio extra", prevendo algum contratempo na montanha. Previna-se! Planeje seus cilindros extras. Um dia você pode precisar.

Outro conceito interessante e até irônico que Collins comenta é o Retorno sobre a Sorte (ROL em inglês em contraposição ao ROI - return over investiment).
Analisadas ao longo do tempo, as "Empresas 10x" não apresentaram sorte maior que a média do mercado. Ou seja, se beneficiaram ou se prejudicaram igualmente a efeitos de fatores externos ao mercado. Por outro lado, todos os fatores acima descritos contribuíram sim para o sucesso das "10x" nos momentos de sorte favorável. Ou seja, as "Empresas 10x", exatamente por serem disciplinadas, paranoicas, empíricas e prevenidas souberam aproveitar melhor a sorte, tiveram um ROL (return over luck) melhor.

Os autores ricamente exemplificam situações e histórias de várias "Empresas 10x" em comparação com referências de seus mercados para comprovar seus achados e teses no livro.

Eles concluem, que em um mundo que sofre da perigosa doença da crença que o sucesso é fruto da sorte, que não somos responsáveis por nosso sucesso (e fracasso!), comprovam que "a grandeza não é, em essência, questão de circunstâncias, mas de escolha consciente e disciplina", mesmo em um mundo caótico e incerto. Não somos prisioneiros das circunstâncias, temos a opção de sermos livres e vencedores. Mas para isso devemos ter disciplina e seguir algumas regras.

Em sua parte final, o livro apresenta uma parte de perguntas mais frequentes com uma revisão de conceitos não apenas do livro como de alguns anteriores, além de tabelas, dados e referências para cada uma as conclusões de cada capítulo. Tudo bem embasado.

Sem dúvida um ótimo livro, incrivelmente agradável de se ler. Muito esclarecedor.

Este livro está entre meus Recomendados sobre Estratégia. Confira a lista aqui.

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