Davi & Golias - Malcolm Gladwell

   
Título: Davi & Golias
Autor: Malcolm Gladwell
Tradução de: David & Goliath
Editora: Sextante
Ano: 2014
Páginas: 286
ISBN/EAN: 9-788543-100326



Pare de tentar se comparar com os melhores. Crie um nicho e domine-o.

A famosa história do pequeno pastor que derrotou o poderoso gigante.
A sedutora fábula que o mais fraco pode derrotar o mais forte.  
Mas será que o mais fraco era de fato mais ‘fraco’?

Malcolm Gladwell é famoso por suas releituras sobre fatos do dia-a-dia, e em Davi & Golias não é diferente.
O autor conhecido por seus estudos e abordagens pouco convencionais (O Ponto da Virada, 2000; Decisão num Piscar de Olhos, 2005; Fora de Série, 2008), neste livro busca estudar o real fator de sucesso de diversas histórias de fracos que vencem fortes, azarões que superam favoritos.

No contexto da história, Golias, um típico soldado de infantaria pesada, gigante em sua estatura e provavelmente muito apto para a luta corporal direta, era de fato o favorito em um embate direto com o pequeno garoto pastor Davi. No entanto o desfecho da história demonstrou que o que os filisteus e Golias esperavam do embate, jamais aconteceu, ou seja um combate corpo-a-corpo entre o gigante filisteu e o pequeno pastor israelita.

Devidamente preparado e voluntário para a missão, Davi trouxe o combate para o seu campo, a sua zona de conforto e habilidade, o campo onde ele na verdade era o favorito, o mais habilidoso, o ‘gigante’: a luta à distância. Nela, Golias nada ou pouco valia.

(imagem: life hope & truth)

Naquela época (como hoje) manejar uma funda (espécie de atiradeira) para arremessar pedra contra lobos em movimento que acossam rebanhos não era nem é hoje em dia, nem de longe, tarefa fácil. Demandava destreza ímpar e muita prática. Davi na verdade tinha em mãos o que podia ser considerado um lança-misseis da época. Uma pedra arremessada por uma funda, se corretamente direcionada tinha (tem!) um poder letal maior que de uma lança, em impacto e em velocidade. Ou seja, uma vez no alcance de Davi, Golias era presa fácil. O final da história todos sabem.

Gladwell explora que inúmeras são as histórias de Davis que derrotam Golias, mas não em inferioridade absoluta, mas apenas relativa. E quando os Davis conseguem conduzir o confronto para o seu campo de domínio e destreza, passam eles a ser os favoritos, os gigantes, os vencedores.

Mais que isso, Malcolm afirma que a condição de relativo azarão é consequência de fatores e contextos anteriores que, se de um lado desfavorecem os Davis  - envergadura, robustez, couraça – conferem a eles vantagens – velocidade, agilidade, flexibilidade, e que portanto toda vez que os Davis trazem a luta para sua zona de eficácia, ganham o combate.

Malcolm nos lembra que na história militar, quando um exército enfrenta outro em maior contingente, consegue ganhar em apenas 29% dos casos quando usa táticas convencionais de combate direto. No entanto, a despeito do menor número, se resolve usar táticas de guerrilha ou emboscadas, suas chances de sucesso dobram.

Segundo Gladwell, crianças com infâncias desfavorecidas tendem a crescerem como adultos mais preparados que as que tiveram infância abastada e despreocupada. Igual acontece com restrições físicas: cegos normalmente ouvem melhor que qualquer pessoa que tem visão normal, e os surdos enxergam como ninguém, porque se adaptaram a compensar suas acuidades sensoriais para autodefesa e sobrevivência. Os disléxicos normalmente se atém mais a detalhes e tem boa memória já que tendem a ler com mais lentidão e tendo de prestar mais atenção.

Estudando pessoas que contribuíram para a construção do conhecimento humano, Gladwell concluiu que 45% dos nomes de pessoas em enciclopédias que deram sua contribuição a alguma teoria ou conceito científico relevante, tiveram infância desfavorecida com a perda de ao menos um dos genitores antes de completarem 20 anos. Sendo forçados a se superarem, encaram as dificuldades com outros olhos, buscando sempre uma oportunidade de êxito onde a maioria vê apenas o obstáculo.

Por outro lado, pessoas com infâncias favorecidas, por serem constantemente poupadas de agruras, crescem com falta de independência, não aprendem o valor do trabalho árduo e de pensar por si mesmos, falta-lhes confiança.

Gladwell cita estudos sobre escolas e os tamanhos das classes. É sabido que em classes muito numerosas o aprendizado e a performance é pior que nas menores. No entanto, existe um limite para o tamanho mínimo das turmas: com menos de 12 membros, os alunos sentem-se menos motivados a interagir, a aprender e mesmo a competir com os colegas. 

A moral da história na abordagem de Gladwell é que não basta poder, dinheiro ou saúde. Isso não garante o sucesso. Na verdade, todo mundo tem um lado forte, fruto muitas vezes de privações em diversas fases da vida. Cabe a cada um descobrir qual esse lado forte e qual a serventia ou real vantagem que pode tirar dela.

Ou seja, pobre do despreparado, lento e ultrapassado Golias: sucumbiu frente ao poderoso e letal Davi.
 (Não à toa, Davi tornou-se um dos mais importantes reis da historia antiga. Sorte?)

O livro prende, não apenas pela abordagem, mas também pelos detalhes e contextualização históricas. Entretém bastante.

Falando em lado forte, se você tem dúvida ou curiosidade de qual seria o seu lado forte, sugiro a também excelente leitura de Descubra seus Pontos Fortes de Marcus Buckingham. A ideia de domínio de um nicho está bem alinhado com os conceitos de Cauda Longa de Chris Anderson e de Oceano Azul de Mauborgne & Kim.

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