Livros de Negócios: a Armadilha dos Títulos

   

Já reparou quantos livros de Administração ou Negócios, pelo título, parecem ou soam como (a tenebrosa!) auto-ajuda? Pois é.

Esse é um grave e silencioso problema que assola o editorial de Administração e Negócios na indústria de livros: os Títulos (originais ou traduzidos).

Não é um fenômeno exclusivo nosso, brasileiro, mas ao menos aqui no Brasil tem uma explicação clara: Auto-ajuda vende muito mais que Administração. Até porque no Brasil tem mais gente "mal" de vida querendo ajuda milagrosa que gente querendo trabalhar, empreender ou resolver problemas com metodologia ou embasamento científico. Não é meu objetivo aqui discutir esse lado socio-cultural nosso, mas é um fato.

Outro fator é que a carreira de Administração aqui no Brasil caiu em desprestígio nos anos 1940. E não por uma questão de mercado - baixa demanda de estudantes pela carreira - mas por imposição governamental, a tal lei 7.988 de 1945 que extinguiu os cursos de Administração nas universidades brasileiras (exceto Administração Pública). O curso de 'Adm' foi voltar apenas nos idos dos anos 1970 (para minha sorte!). Nesse ínterim, as vagas de Administrador nas Empresas acabaram sendo supridas por Engenheiros e Economistas principalmente, com todo o mérito, nem vou discutir isso.

Logo, sem um curso universitário que despertasse interesse por essa categoria de livros por 30 anos, eles se perderam entre os de Economia e os de (argh!) Auto-ajuda, ao gosto do livreiro.   

Enfim, a soma desses dois fatores fazem no Brasil com que livros de Administração e principalmente os de Gestão de Pessoas ou que tratem de estudos sobre Desenvolvimento ou Comportamento Pessoal acabem parecendo livros de Auto-ajuda por causa de seus títulos muito 'vendedores'.

Veja se esses títulos não parecem auto-ajuda:
Vai Fundo! (Vaynerchuk), A Arte de Fazer Acontecer (Allen), Vencendo a Crise (Peters & Waterman), Vencedoras por Opção (Collins), Só os Paranóicos Sobrevivem (Groove),  Saia da Crise (Deming), Descubra seus Pontos Fortes (Buckingham), A Arte do Começo (Kawasaki), Ideias que Colam (Heath), O Ponto da Virada (Gladwell), Poder (Pfeffer), De Onde vem as Boas Ideias (Johnson), O Poder do Hábito (Duhigg), Jogar para Vencer (Lafley & Martin) ou Dar e Receber (Grant) ?

Pois é. Mas são todos excelentes livros de Gestão/Negócios.

Outros são vítimas da tradução.
Veja alguns exemplos de traduções que tiveram seus títulos "auto-ajudados" (perdão o trocadilho):

. Drive (Dan Pink, 2009) - algo como "Guia, Condução" virou Motivação 3.0
. True North (Bill George, 2007) - "Norte Verdadeiro" virou Autenticidade.
. Decisive (Dan & Chip Heath, 2014) - "Decisivo" virou Gente que Resolve.
. The Thank you Economy (Gary Vaynerchuk, 2011) - "A Economia da Gratidão" virou simplesmente Gratidão, mudando o contexto.
. Riv Piramiderna (Jan Carlzon, 1986) - "Inverta a Pirâmide" no original sueco, virou Moments of Truth (Momentos de Verdade) em inglês, e logo virou A Hora da Verdade em português. OK, não vamos pegar tanto no pé, nesse caso o título em inglês os induziu.

Tudo bem que muitas vezes o título precisa ser mudado porque simplesmente traduzindo-o diretamente não tenha tanto significado ou vínculo com o conteúdo do livro. Mas às vezes rola um exagero desnecessário na criatividade.

Portanto cuidado para não descartar um bom livro de Gestão apenas pelo título muito 'vendedor'. Ou pior, cuidado para não parar nas prateleiras de Auto-ajuda das livrarias pensando que ainda está na sessão de Administração/Negócios! 

Buscar resenhas e referências bibliográficas sempre ajuda a tirar essa dúvida. Use e abuse!

:)

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