Título: Inovação Reversa
Autor: Vijay Govindarajan & Chris Trimble
Tradução de: Reverse Innovation
Editora: Elsevier-Campus
Ano: 2012
Páginas: 216
ISBN/EAN: 9-788535-259209
O típico caminho da Inovação segue dos Países Desenvolvidos para os em Desenvolvimento. Institutos de pesquisa e Empresas desenvolvem um novo produto ou serviço, introduzem-no nos mercados desenvolvidos e depois expandem para o resto do mundo. Normalmente fazendo versões mais simplificadas, de menor custo e benefícios (downgrade ou defeature), para penetrar os mercados ditos emergentes. Obviamente não é tarefa fácil, mas o mercado aprendeu essa prática já tem um tempo.
Pois bem, o professor da Tuck School, Vijay Govindarajan e seu aluno, o consultor Chris Trimble, estudam o assunto Inovação por décadas, e chegaram a uma conclusão que esse caminho pode ser sim de duas vias, ou seja, mercados emergentes também podem desenvolver Inovações, não apenas ajustadas à sua situação local, mas também exportando a ideia, produto ou serviço para os mercados desenvolvidos fazendo upgrades ou não. E esse conceito ganhou o termo "Inovação Reversa" cunhado pelo próprio Chris Trimble durante a preparação do livro.
Em mais esse seu livro com Chris Trimble, Vijay, ou simplesmente 'VJ' como ele gosta de ser chamado, defende que a oportunidade de Inovação Reversa nasce das eventuais falhas das tentativas de se adaptar inovações de mercados maduros para os emergentes. Inúmeros são os casos de produtos e serviços introduzidos em mercados emergentes que falham.
Falham porque, de acordo com VJ, deixam de levar em consideração os 5 tipos de Defasagens, lacunas dos mercados emergentes que são caminhos de inovação:
1. Desempenho - sim, mercados emergentes aceitam produtos com alguma performance inferior, mas a relação de redução custo-benefício não é linear. Ou seja, reduzindo 50% da performance, o custo também baixa 50%. Não, não é assim que se comportam os mercados emergentes. VJ e Trimble chegam à conta de os consumidores em Países Emergentes estariam dispostos a consumir 50% menos performance, pagando apenas 15% do custo original, ou seja uma redução de 85% no preço para 50% de performance. Difícil reengenharia, não? Portanto a redução de performance deve ser mínima, ou melhor, deve-se buscar substituir benefícios globais de baixa relevância local, por benefícios de baixo custo e maior relevância local. Oferta que atende a necessidades reais a preço realista.
2. Infraestrutura - muitas empresas se esquecem que além do seu produto ou serviço em si, eles podem depender de infraestrutura local que nem sempre tem a mesma performance que em mercados desenvolvidos: logística, eletricidade, saneamento, internet, assistência pós-venda, etc. Daí a escassez pode virar oportunidade.
Dois exemplos rápidos da Índia: consumidores de celulares super básicos lá ainda valorizam lanterna embutida como recursos essencial, dado que a maioria das residências não tem luz. Igual fenômeno se dá na África. Um fabricante famoso de iogurtes sofreu até descobrir que os consumidores locais gostavam de seus produtos, mas não compravam porque a embalagem mínima apresentava seis copinhos de iogurte, e para quem não tem geladeira porque não há luz elétrica em casa, o ideal seria embalagem unitária ou dupla para compra e consumo diário. Aprenderam só depois que falharam.
3. Sustentabilidade - mercados mais emergentes são mais sensíveis a produtos sustentáveis. Não apenas no que tange à sustentabilidade ambiental, mas principalmente social e econômica, o perfeito tripple bottonline. Dados os críticos problemas de poluição do ar, a chance de os carros elétricos darem certo antes na China que em outros Países é patente. Prova disso que o megainvestidor Warren Buffett comprou 10% de participação de uma até então desconhecida empresa chinesa que desenvolve carros elétricos.
4. Regulamentação - o arcabouço regulatório dos Países Emergentes é muito difuso, faca de dois gumes. Em alguns ramos é extremamente burocrático, em outros muito permissivo. É imperativo as empresas mergulharem fundo na legislação local antes de aventurarem-se em qualquer País emergente. Bem estudados, esses mercados podem ser oportunidades para produtos e serviços mais simplificados e de menor custo. Além disso, em alguns campos, por falta de histórico de sistemas regulatórios legados, Países emergentes podem adotar o que há de mais moderno em normas.
5. Preferências - uma caixa preta: os gostos locais. Igualmente à lacuna regulatória, muitas empresas locais, mais conhecedoras de sua gente, acham lacunas na oferta global, e lançam algo feito especialmente para o mercado emergente, respeitando gostos e traços culturais e étnicos locais. A PepsiCo por exemplo teve de substituir o milho por lentilha como principal componente de seus salgadinhos na Índia, por escassez de um e abundância e preferência de outro.
Sabendo dimensionar essas lacunas com mais acuracidade, as empresas acham oportunidades melhores de inovação e negócios. O problema é que normalmente empresas ou instituições mundiais tem dificuldade em monitorar e perceber as nuances dessas lacunas locais. Daí entram os inovadores e empreendedores locais. Mestres de seus mercados, desenvolvem iniciativas de inovação, quando devidamente fundeadas para tal, que são sucessos locais com mais facilidade. E quando essas inovações ganham também os mercados externos e principalmente os desenvolvidos temos um caso típico de Inovação Reversa.
Muitas empresas líderes em seus segmentos, na busca de consolidar sua liderança ou prepararem-se para não perder participação de mercado (ver Kotler, Marketing de Crescimento), começam a dar atenção maior a esses mercados emergentes, excelentes oportunidades de receitas adicionais. O problema é que elas não podem abordar esses mercados com suas visões típicas de líderes globais e principalmente com o modo de operar global. Precisam entender a inovação local e até buscar parcerias com esses inovadores locais eventualmente.
O mais importante na ênfase de VJ, é que as empresas globais, se querem mergulhar na Inovação Reversa, é adaptarem sua organização para tal. Simplesmente abrir um escritório local e despachar expatriados em nada resolve. Os processos internos devem ser modificados. A Inovação Reversa deve ser ensinada na matriz e adotada como estratégia global e não como customização de ofertas globais. Os times de Inovação Reversa devem ter organizações autônomas reportando diretamente ao nível mais alto da empresa e de preferencia ser compostos por profissionais não apenas culturalmente diversos, mas oriundos de fora da própria empresa, para evitar serem contaminados pelas (más) práticas. Conceitos estes que VJ já defende para qualquer iniciativa de inovação, reversa ou não, em outro livro os mesmos autores: O Outro lado da Inovação (2009), que foca muito o lado organizacional e de execução. Recomendo a leitura fortemente!
A segunda parte do livro apresenta 8 Estudos de Casos de Inovação Reversa que incluem empresas como a própria PepsiCo já citada, além de P&G, EMC, GE, Logitech, etc.
O livro fecha com um Kit de Ferramentas simples para Diagnóstico e Plano de Ação para Inovação Reversa. Ótima sacada!
Não à toa, Inovação Reversa de Vijay Govindarajan e Chris Trimble está entre os Melhores Livros de Negócios eleitos pela Amazon em 2012.
Vale a leitura também do artigo sobre Inovação Reversa e 'Glocalização'(2011) do prof. VJ, antecedendo esse seu livro.
Recomendo a leitura!
:)
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Pois bem, o professor da Tuck School, Vijay Govindarajan e seu aluno, o consultor Chris Trimble, estudam o assunto Inovação por décadas, e chegaram a uma conclusão que esse caminho pode ser sim de duas vias, ou seja, mercados emergentes também podem desenvolver Inovações, não apenas ajustadas à sua situação local, mas também exportando a ideia, produto ou serviço para os mercados desenvolvidos fazendo upgrades ou não. E esse conceito ganhou o termo "Inovação Reversa" cunhado pelo próprio Chris Trimble durante a preparação do livro.
Falham porque, de acordo com VJ, deixam de levar em consideração os 5 tipos de Defasagens, lacunas dos mercados emergentes que são caminhos de inovação:
1. Desempenho - sim, mercados emergentes aceitam produtos com alguma performance inferior, mas a relação de redução custo-benefício não é linear. Ou seja, reduzindo 50% da performance, o custo também baixa 50%. Não, não é assim que se comportam os mercados emergentes. VJ e Trimble chegam à conta de os consumidores em Países Emergentes estariam dispostos a consumir 50% menos performance, pagando apenas 15% do custo original, ou seja uma redução de 85% no preço para 50% de performance. Difícil reengenharia, não? Portanto a redução de performance deve ser mínima, ou melhor, deve-se buscar substituir benefícios globais de baixa relevância local, por benefícios de baixo custo e maior relevância local. Oferta que atende a necessidades reais a preço realista.
2. Infraestrutura - muitas empresas se esquecem que além do seu produto ou serviço em si, eles podem depender de infraestrutura local que nem sempre tem a mesma performance que em mercados desenvolvidos: logística, eletricidade, saneamento, internet, assistência pós-venda, etc. Daí a escassez pode virar oportunidade.
Dois exemplos rápidos da Índia: consumidores de celulares super básicos lá ainda valorizam lanterna embutida como recursos essencial, dado que a maioria das residências não tem luz. Igual fenômeno se dá na África. Um fabricante famoso de iogurtes sofreu até descobrir que os consumidores locais gostavam de seus produtos, mas não compravam porque a embalagem mínima apresentava seis copinhos de iogurte, e para quem não tem geladeira porque não há luz elétrica em casa, o ideal seria embalagem unitária ou dupla para compra e consumo diário. Aprenderam só depois que falharam.
3. Sustentabilidade - mercados mais emergentes são mais sensíveis a produtos sustentáveis. Não apenas no que tange à sustentabilidade ambiental, mas principalmente social e econômica, o perfeito tripple bottonline. Dados os críticos problemas de poluição do ar, a chance de os carros elétricos darem certo antes na China que em outros Países é patente. Prova disso que o megainvestidor Warren Buffett comprou 10% de participação de uma até então desconhecida empresa chinesa que desenvolve carros elétricos.
4. Regulamentação - o arcabouço regulatório dos Países Emergentes é muito difuso, faca de dois gumes. Em alguns ramos é extremamente burocrático, em outros muito permissivo. É imperativo as empresas mergulharem fundo na legislação local antes de aventurarem-se em qualquer País emergente. Bem estudados, esses mercados podem ser oportunidades para produtos e serviços mais simplificados e de menor custo. Além disso, em alguns campos, por falta de histórico de sistemas regulatórios legados, Países emergentes podem adotar o que há de mais moderno em normas.
5. Preferências - uma caixa preta: os gostos locais. Igualmente à lacuna regulatória, muitas empresas locais, mais conhecedoras de sua gente, acham lacunas na oferta global, e lançam algo feito especialmente para o mercado emergente, respeitando gostos e traços culturais e étnicos locais. A PepsiCo por exemplo teve de substituir o milho por lentilha como principal componente de seus salgadinhos na Índia, por escassez de um e abundância e preferência de outro.
Sabendo dimensionar essas lacunas com mais acuracidade, as empresas acham oportunidades melhores de inovação e negócios. O problema é que normalmente empresas ou instituições mundiais tem dificuldade em monitorar e perceber as nuances dessas lacunas locais. Daí entram os inovadores e empreendedores locais. Mestres de seus mercados, desenvolvem iniciativas de inovação, quando devidamente fundeadas para tal, que são sucessos locais com mais facilidade. E quando essas inovações ganham também os mercados externos e principalmente os desenvolvidos temos um caso típico de Inovação Reversa.
Muitas empresas líderes em seus segmentos, na busca de consolidar sua liderança ou prepararem-se para não perder participação de mercado (ver Kotler, Marketing de Crescimento), começam a dar atenção maior a esses mercados emergentes, excelentes oportunidades de receitas adicionais. O problema é que elas não podem abordar esses mercados com suas visões típicas de líderes globais e principalmente com o modo de operar global. Precisam entender a inovação local e até buscar parcerias com esses inovadores locais eventualmente.
O mais importante na ênfase de VJ, é que as empresas globais, se querem mergulhar na Inovação Reversa, é adaptarem sua organização para tal. Simplesmente abrir um escritório local e despachar expatriados em nada resolve. Os processos internos devem ser modificados. A Inovação Reversa deve ser ensinada na matriz e adotada como estratégia global e não como customização de ofertas globais. Os times de Inovação Reversa devem ter organizações autônomas reportando diretamente ao nível mais alto da empresa e de preferencia ser compostos por profissionais não apenas culturalmente diversos, mas oriundos de fora da própria empresa, para evitar serem contaminados pelas (más) práticas. Conceitos estes que VJ já defende para qualquer iniciativa de inovação, reversa ou não, em outro livro os mesmos autores: O Outro lado da Inovação (2009), que foca muito o lado organizacional e de execução. Recomendo a leitura fortemente!
A segunda parte do livro apresenta 8 Estudos de Casos de Inovação Reversa que incluem empresas como a própria PepsiCo já citada, além de P&G, EMC, GE, Logitech, etc.
O livro fecha com um Kit de Ferramentas simples para Diagnóstico e Plano de Ação para Inovação Reversa. Ótima sacada!
Não à toa, Inovação Reversa de Vijay Govindarajan e Chris Trimble está entre os Melhores Livros de Negócios eleitos pela Amazon em 2012.
Vale a leitura também do artigo sobre Inovação Reversa e 'Glocalização'(2011) do prof. VJ, antecedendo esse seu livro.
Recomendo a leitura!
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