De Empreendedor e Louco - Linda Rottenberg

  
Título: De Empreendedor e Louco
Subtítulo: Todo Mundo Tem Um Pouco
Autor: Linda Rottenberg
Tradução de: Crazy is a Compliment
Editora: HSM
Ano: 2015
Páginas: 296
ISBN/EAN: 9-788567-389325

"Louco é um elogio", diz o título original em inglês Crazy is a Compliment do livro da famosa empreendedora Linda Rottenberg, fundadora da Endeavor.


Pensamento Empreendedor não é apenas para quem tem negócio próprio, quem empreende. Segundo Rottenberg, mesmo quem colabora em uma organização precisa ter esse sentimento nos dias de hoje. Cada desafio dentro de uma empresa, sua ou não, cada projeto, cada nova meta desafiadora é como um empreendimento em um sentido mais amplo. O fato é que Rottenberg resolveu ajudar a desenvolver o pensamento Empreendedor em Países e mercados emergentes, justamente onde pouco se apoia ou se ensina sobre empreendedorismo. Assim ela fundou a Endeavor, para ajudar empreendedores a dominar as ferramentas básicas para gestão de seu negócio próprio. Logo ela percebeu que os empreendedores locais precisam de exemplos locais, alguém para inspirá-los em seu contexto, não apenas casos famosos de outros Países, com contextos distintos. Esse é o foco da Instituição, integrar os empreendedores locais, fazendo-os aprender a empreender dentro do contexto do seu País, do seu Mercado.

De sua experiência à frente da Endeavor, nasceu o livro.

Mas afinal, qual o maior obstáculo para se empreender?
- O medo. O risco.

Assumir riscos não é fácil. Muitos são os que te aconselham contra quando um projeto (empreendimento ou não) vai fazê-lo sair da zona de conforto. É natural, é humano. O instinto de sobrevivência nos faz temerários. Buscamos sempre defender-nos de riscos.

Buscar orientação e apoio é nossa tendência nessas situações. E isso pode ser uma armadilha: não ouça familiares, não ouça amigos. Eles gostam de você, tem um vínculo emocional, querem o seu bem, querem defendê-lo. Vão enxergar oportunidades como ameaças. Vão querer convencê-lo a desistir. Ou pior, não querendo contrariá-lo, vão encorajá-lo, sem nenhuma orientação útil.

"Se não acharem você louco quando empreender algo novo, significa que você não pensou alto o suficiente".

Quer orientação sobre empreender? Busque quem empreendeu e teve sucesso. Busque quem empreendeu e não teve sucesso. O erro dos outros sempre é boa escola para a gente. Vale consultar o 'Livro Negro do Empreendedor' de Fernando Trias, super útil.

No entanto, Riscos Inteligentes, calculados, são o segredo para romper essa barreira. Quando começar, assegure-se que tem economias suficientes para manter-se e sua família ao menos por um ano. Jamais assuma o risco de deixar sua família em risco econômico. Comece com riscos pequenos, aumente os riscos gradativamente.

Capitalizar-se usando crowdfunding também é uma excelente alternativa. Ao expor seu projeto à um número muito grande de potenciais investidores tem oportunidade de ter pareceres independentes sobre a viabilidade do projeto. Se o apoio for mínimo, seguramente precisa "pivotar", mudar parâmetros de seu projeto. O escopo seguramente está errado. 

Uma vez iniciado o projeto, a única certeza é que obstáculos aparecerão. Quando isso acontecer, não deixe o pânico se instalar. Não se frustre. Não tente mudar as coisas abandonando o objetivo inicial. Se o risco assumido for pequeno, vale insistir no escopo inicial. Pare, repense seus objetivos. Rottenberg conta o caso da Starbucks. Certo que parte importante de seus problemas era o mal treinamento de seus funcionários, o fundador Howard Schultz, em um certo dia em 2008 determinou que nenhuma loja abriria, para que todos fossem retreinados, não apenas nos procedimentos, mas nos valores da empresa. Muitas empresas teriam feito distinto: obrigado os funcionários a passar por treinamento fora do horário normal de trabalho, para não afetar as operações e faturamento, em turnos alternados. Ao contrário, entendeu que um "para tudo" teria efeito muito mais benéfico. Daria oportunidade de todos estarem juntos no treinamento, certos que naquele dia dinheiro algum entraria. A empresa abriu mão de algo para que eles abrissem também.  Funcionou.

Em toda situação de crise, existe também uma oportunidade. O tal "fazer do  limão, uma limonada".

Busque informar-se e aconselhar-se com outros empreendedores. Todos tem um "pulo-do-gato" para compartilhar. 

Segundo Rottenberg existem 4 tipos de Personalidades Empreendedoras: 

1. Diamantes - visionários inquestionáveis. Tem a capacidade de mudar a vida das pessoas. Criam negócios de fato inovadores. Normalmente são introspectivos. Alguns exemplos são Steve Jobs, Sergei Brin e Mark Zuckerberg.

2. Estrelas - carismáticos, inspiram muitos seguidores. Realizam muitas coisas, ajudam os demais, mas normalmente operam sozinhos. Não são líderes de equipes. Inspiram sem conduzir os demais. Ex: Oprah Winfrey e Martha Stewart. 

3. Transformadores - catalizadores de mudanças em indústrias ou mercados estagnados. Ex: Howard Schultz e Ray Kroc.

4. Foguetes - pensadores analíticos, querem melhorar coisas existentes, aumentar eficiência e eficácia, mais rápido, melhor e mais barato. Normalmente muito bons em cálculos. Ex: Bill Gates e Jeff Bezos.

Tente identificar em qual dessas personalidades você se encaixa mais. Estude-a. Estude empreendedores conhecidos com essa personalidade, principalmente seus pontos falhos. Então busque orientação com personalidade distintas da sua. 

Inovação Contínua
1. Escolhas - nem sempre as coisas saem como planejado. É preciso fazer escolhas (a vida é uma sequencia de escolhas), impossível manter "todos os pratos girando". Deliberadamente escolha quais "pratos" você vai parar de girar, antes que todos caiam ao mesmo tempo. Renunciar a algumas coisas não é um problema. Nenhum produto ou serviço atende a todos e tudo. Tenha coragem de descontentar alguns clientes. Nem todos são de fato seu público-alvo. Mas tenha em mente isso ANTES de dizer um 'não' a alguém. Saiba de antemão que vai ouvir 'não', quem vai ouvir 'sim'.

2. "Despeça sua Sogra" - tenha coragem de descontentar algumas pessoas internas. Também é uma questão de escolha. No começo é mais fácil parentes ou amigos te ajudarem. Mas o mais rápido possível, tenha trabalhando contigo pessoas por laços de interesse e competência, não laços afetivos ou de sangue. Muito mais cedo que você imagina, o profissionalismo precisa dominar seu negócio. Parentes e amigos podem continuar colaborando sim, mas fora do negócio.

3. "Minovação" - não tenha medo de inovar aos poucos. "Pequenas mas constantes melhorias", muito mais que saltos de inovação abrupta. Inovação minimalista, "minovação".

4. Aberto a mudanças, "pero no mucho" - se for o caso mude os parâmetros do seu negócio se ver necessário. No entanto, a experiência demonstra que mudanças radicais de rumo são menos eficientes.

5. "Sonhe alto, execute pequeno" - aterrize seu sonho. O objetivo deve ser audaz, mas as atividades do dia-a-dia devem ser críveis e realizáveis.  "Como se come um elegante? De colherada em colherada". 

Desenvolva Liderança
1. Seja Acessível - quanto menor a organização mais perto precisa colaborar e entender e ser entendido pelo time. Conforme o time cresce.... não deixe de ser acessível. Distância mina qualquer liderança. Como humanos tendemos a não querer seguir pessoas com as quais não sentimos nenhuma empatia.

2. Conheça a si mesmo - não se conhecer, principalmente seus limites pode ser fatal. Em tudo. Quem reconhece publicamente suas limitações é mais aceito e seguido por seus colegas. 

3. Seja Autêntico - "mentira tem perna curta", não vai muito longe. Ser falso, simulado, mina qualquer confiança. 

4. Tenha um Mentor - cada vez mais importante em qualquer atividade de trabalho, empreendedor ou colaborador, chefe ou subordinado, encontre alguém que te ensine coisas. O aprendizado é um processo contínuo ao longo da vida de qualquer ser humano. No trabalho não é diferente.

Mentalidade Empreendedora
Não apenas o "dono" do empreendimento deve ter essa mentalidade. Busque incutir em todos essa mentalidade. Se todos sentirem-se "donos" do negócio são mais responsáveis e comprometidos com o objetivo. 

Bonificações apenas monetárias não são a solução. Criar uma cultura empreendedora no time é essencial. Sentir-se parte do negócio muitas vezes vale mais que um cheque maior. Rottenberg cita os estudos de Motivação de Daniel Pink. Vale conferir

Carreira ou Vida Pessoal?
- Ambos!
Aprenda a delegar, a trabalhar com os outros e através dos outros. 
Encoraje a flexibilidade de horários e processos. Muita gente se apega a uma empresa não pelo desafio, descrição de cargo ou salário. Mesmo tendo propostas similares ou até melhores, tem gente que se fideliza a uma empresa quando sente que a empresa a entende e flexibiliza processos e horários para acomodá-la, acolhê-la. Isso está cada vez mais crescente nas empresas. Ao sentir-se valorizada e acolhida a pessoa pensa muito mais antes de querer mudar. Quando sente que a empresa valoriza o lado pessoal de cada um, um colaborador tende a se esforçar mais. Valoriza ser valorizado. Isso vale muito.
Nítidas as influências de Jason Fried & David Hansson em Rework, 2010.

O livro tem muitas dicas legais. Vale a leitura.
Este livro está entre meus Recomendados sobre Empreendedorismo. Confira a lista aqui.

Saiba mais sobre a autora em seu site.

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Foco - Daniel Goleman

   
Título: Foco
Autor: Daniel Goleman
Tradução de: Focus
Editora: Objetiva 
Ano: 2014
Páginas: 296
ISBN/EAN: 9-788539-005352

Atenção com o título do livro: pode facilmente induzir que seja de auto-ajuda... e não é.
Atenção com o subtítulo do livro: pode parecer óbvio.... e é!

O prof. Daniel Goleman é conhecido pela sua importante teoria (e livro, 2005) de Inteligência Emocional. Agora em 'Foco', ele aprofunda seus estudos para provar o senso comum de que para se concluir algum projeto, empreendimento ou mesmo tarefa mais corriqueira com sucesso, eficiência, se necessita Foco.

O conceito nos faz lembrar a idéia de Jason Fried & David Hansson em Rework (2010) de que quando as pessoas precisam fazer uma tarefa bem feita, fazem-na fora do ambiente normal de trabalho. Pois é  necessário foco e no ambiente normal o mais comum são as interrupções (inoportunas).

Segundo o prof. Goleman, "a Atenção é como um músculo: se você não usa, atrofia". Por outro lado, usando-a muito, ela se desenvolve e se fortalece.

Vivemos na Era da Distração. A quantidade de informação a qual somos expostos diariamente é simplesmente imensa. Vivemos em um estado de "atenção parcial contínua", tudo está prestes a nos distrair: celular, email, facebook, etc. Superficialidade. A primeira consequência imediata e que muitos pedagogos apontam como um perigo para as jovens gerações é que estamos desenvolvendo seres humanos superficiais. Muita coisa para se lidar, acabamos lidando com tudo apenas superficialmente. Não temos tempo nem paciência para aprofundarmos em nada. Falta o tal Foco. A capacidade de selecionar o que merece nossa atenção.

Até aí, sem novidade, todos temos de uma forma ou outra essa mesma percepção. Sim, gostaríamos todos de ser mais focados, mais profundos, mais produtivos e mais eficientes. 

Mas a pergunta é: como!?

Daniel Goleman defende que a Atenção e o Foco podem ser treinados. Tal qual a metáfora do músculo. Treinando o Foco, ele não atrofia, e se desenvolve. Segundo ele, são justamente as pessoas com maior capacidade de Foco que melhor se dão nos estudos, trabalhos, artes, e relações pessoais. Portanto exercitar seu Foco é o essencial.

Tanto quanto exercício, o "músculo" do Foco também necessita Descanso, porque a Atenção se fatiga ao passar do tempo. Quando você nota que sua Atenção se desfoca, lê as palavras mas não apreende nada, Presta atenção no que as pessoas lhe dizem, mas é incapaz de repetir a mensagem, é sinal claro que seu Foco se foi, cansou, o "músculo" precisa reenergizar-se. 

Como?
Ao invés de forçar a Atenção em um determinado tema, relaxe. Deixe o cérebro vaguear a atenção com coisas dispersas e aleatórias. Cansado de determinado tema, ele certamente vai achar algo com qual se distraia. Passado um tempo, ele tem energia suficiente para se concentrar no tema original novamente. Esse break é essencial. Saber notar sua falta de atenção é essencial. E saber impor-se uma pausa, ainda mais essencial. 

Outro truque da Atenção que Goleman ensina é quanto ao Planejamento.
Normalmente temos dificuldade de planejar coisas e eventos distantes. A ideia de problemas futuros é complexa e não natural ao ser humano. Programados para sobreviver, temos a tendência animal de concentrar-nos mais nos problemas e ameaças imediatas, ou de curto prazo que nas de médio e longo prazos. É natural, não tem por que culpar-se por esse sentimento e hábito. No entanto, os problemas e desafios futuros estarão lá e cedo ou tarde, tornar-se-ão presentes e daí pode ser tarde demais.

Então como encarar e planejar eventos futuros? Segundo Goleman, outra vez é uma questão de Foco. Para se planejar coisas futuras, é necessário focar-se no assunto e imaginar. O cérebro humano, diferente dos demais animais, é o único capaz de imaginar-se em situações futuras. Alguns animais, como o homem, podem ter lembranças de coisas passadas, sensações, etc. Mas imaginar-se em situações futuras apenas o animal homem é capaz. O exercício é tentar imaginar-se na situação futura: que sensações vai ter, buscar descrever a situação com mais detalhes possíveis. Ao imaginar a situação no futuro, os prováveis gargalos, obstáculos, desafios virão à mente. Buscar resolvê-los de antemão é o exercício essencial do planejamento. E Foco é novamente a chave.

Daniel ilustra no livro diversos casos do dia-a-dia para explicar seus conceitos.

Interessantes pontos. Por mais que um pouco óbvios em seu conceito, mas talvez a sacada vital de Goleman está no COMO tratar o Foco. Por isso é válido o livro 'Foco' de Daniel Goleman.

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Seis Regras Simples - Yves Morieux

   
Título: Seis Regras Simples
Autor: Yves Morieux & Peter Tollman
Tradução de: Six Simple Rules
Editora: HSM
Ano: 2014
Páginas: 184
ISBN/EAN: 9-788567-389516

A Humanidade está sofrendo outra crise de Produtividade.

Com esse alerta, os profissionais do Boston Consulting Group - BCG, Yves Morieux & Peter Tollman, pautam o livro Seis Regras Simples.

Estamos complicando nossas organizações a ponto de consistentemente diminuir a Produtividade. Em nome da Clareza, Mensurabilidade e Responsabilização, estamos criando bloqueios e obstáculos ao bom trabalho e bons resultados. 


A complexidade pode ser boa para um negócio ou setor, mas apenas se você for capaz de dominá-la. Isso trará diferenciação e vantagem competitiva.
Mas se a complexidade crescer além do seu domínio, você cria um monstro que tem vida própria.
Os processos, regras, índices chegam a um nível de complexidade que ao invés de ajudar o negócio, prejudica-o.

Já viu isso em algum lugar?

Nesse processo, normalmente as organizações buscam usar uma de duas abordagens:
1. Hard – estruturas, processos, sistemas e programas de incentivos. Assumem que os sistemas são previsíveis e as pessoas controláveis. E isso basta.
2. Soft – team building, iniciativas individuais, liderança informal e incentivos emocionais. Assumem que a performance é resultado de relações pessoais e regras psicológicas. Apelando para o emocional das pessoas, você as controla. E isso basta.

Algumas organizações optam por um misto das duas, mas raramente saem desse esquema.

No entanto isso só torna as organizações complicadas e ineficientes.
Na verdade, segundo os autores, é necessário menos controle (seja por sistemas ou psicológicos), menos sistemas, mais flexibilidade e mais autonomia.

Então como aumentar a eficiência, diminuindo a complexidade organizacional?

Segundo Morieux & Tollman não é através da complexidade de organogramas, processos, índices, métricas, ao contrário, eles defendem a ‘Simplificação Inteligente’ (Smart Simplicity).

A dupla propõe 6 Regras Simples para operar:

1. Entender o que os demais fazem – quem faz realmente o trabalho? Olhe além de organogramas e responsabilidades teóricas.

2. Reforçar os Integradores – remova camadas que não agregam ou que desagregam. Diminua as regras que impedem os times de decidirem por si mesmos. Dê mais autonomia à ponta dos processos.

3. Aumentar a quantidade Total de poder – e não os poderes parciais. Algo do tipo “a energia total da soma é maior que a soma das energias individuais”.

4. Aumentar a Reciprocidade – remover obstáculos que não agregam reciprocidade. “Te agarro pelo nariz e você me prende pela orelha”. Responsabilidade recíproca.

5. Aumentar a ‘Sombra’ do Futuro – entender o impacto futuro das ações presentes. Enxergando o alcance das atitudes de hoje no futuro ajuda a tomar decisões presentes mais conscientes.

6. Recompensar pela Cooperação – e punir pela não cooperação. Punir não pelo resultado, mas pelo não-esforço. Muita gente acha ariscado cooperar, quando na verdade o maior risco está em não fazê-lo.

Segundo Morieux & Tollman, as 6 Regras geram mais produtividade por gerenciar melhor a complexidade. E em uma época de crise de produtividade, controlar a complexidade se faz muito necessário.

A palestra de Morieux no TED (2013) ilustra bem os conceitos do livro. Vale assistir:


E você? Concorda com as ideias dos autores?
A organização onde você trabalha ou colabora tem incrementado os obstáculos para a Produtividade?

Pense!

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Davi & Golias - Malcolm Gladwell

   
Título: Davi & Golias
Autor: Malcolm Gladwell
Tradução de: David & Goliath
Editora: Sextante
Ano: 2014
Páginas: 286
ISBN/EAN: 9-788543-100326



Pare de tentar se comparar com os melhores. Crie um nicho e domine-o.

A famosa história do pequeno pastor que derrotou o poderoso gigante.
A sedutora fábula que o mais fraco pode derrotar o mais forte.  
Mas será que o mais fraco era de fato mais ‘fraco’?

Malcolm Gladwell é famoso por suas releituras sobre fatos do dia-a-dia, e em Davi & Golias não é diferente.
O autor conhecido por seus estudos e abordagens pouco convencionais (O Ponto da Virada, 2000; Decisão num Piscar de Olhos, 2005; Fora de Série, 2008), neste livro busca estudar o real fator de sucesso de diversas histórias de fracos que vencem fortes, azarões que superam favoritos.

No contexto da história, Golias, um típico soldado de infantaria pesada, gigante em sua estatura e provavelmente muito apto para a luta corporal direta, era de fato o favorito em um embate direto com o pequeno garoto pastor Davi. No entanto o desfecho da história demonstrou que o que os filisteus e Golias esperavam do embate, jamais aconteceu, ou seja um combate corpo-a-corpo entre o gigante filisteu e o pequeno pastor israelita.

Devidamente preparado e voluntário para a missão, Davi trouxe o combate para o seu campo, a sua zona de conforto e habilidade, o campo onde ele na verdade era o favorito, o mais habilidoso, o ‘gigante’: a luta à distância. Nela, Golias nada ou pouco valia.

(imagem: life hope & truth)

Naquela época (como hoje) manejar uma funda (espécie de atiradeira) para arremessar pedra contra lobos em movimento que acossam rebanhos não era nem é hoje em dia, nem de longe, tarefa fácil. Demandava destreza ímpar e muita prática. Davi na verdade tinha em mãos o que podia ser considerado um lança-misseis da época. Uma pedra arremessada por uma funda, se corretamente direcionada tinha (tem!) um poder letal maior que de uma lança, em impacto e em velocidade. Ou seja, uma vez no alcance de Davi, Golias era presa fácil. O final da história todos sabem.

Gladwell explora que inúmeras são as histórias de Davis que derrotam Golias, mas não em inferioridade absoluta, mas apenas relativa. E quando os Davis conseguem conduzir o confronto para o seu campo de domínio e destreza, passam eles a ser os favoritos, os gigantes, os vencedores.

Mais que isso, Malcolm afirma que a condição de relativo azarão é consequência de fatores e contextos anteriores que, se de um lado desfavorecem os Davis  - envergadura, robustez, couraça – conferem a eles vantagens – velocidade, agilidade, flexibilidade, e que portanto toda vez que os Davis trazem a luta para sua zona de eficácia, ganham o combate.

Malcolm nos lembra que na história militar, quando um exército enfrenta outro em maior contingente, consegue ganhar em apenas 29% dos casos quando usa táticas convencionais de combate direto. No entanto, a despeito do menor número, se resolve usar táticas de guerrilha ou emboscadas, suas chances de sucesso dobram.

Segundo Gladwell, crianças com infâncias desfavorecidas tendem a crescerem como adultos mais preparados que as que tiveram infância abastada e despreocupada. Igual acontece com restrições físicas: cegos normalmente ouvem melhor que qualquer pessoa que tem visão normal, e os surdos enxergam como ninguém, porque se adaptaram a compensar suas acuidades sensoriais para autodefesa e sobrevivência. Os disléxicos normalmente se atém mais a detalhes e tem boa memória já que tendem a ler com mais lentidão e tendo de prestar mais atenção.

Estudando pessoas que contribuíram para a construção do conhecimento humano, Gladwell concluiu que 45% dos nomes de pessoas em enciclopédias que deram sua contribuição a alguma teoria ou conceito científico relevante, tiveram infância desfavorecida com a perda de ao menos um dos genitores antes de completarem 20 anos. Sendo forçados a se superarem, encaram as dificuldades com outros olhos, buscando sempre uma oportunidade de êxito onde a maioria vê apenas o obstáculo.

Por outro lado, pessoas com infâncias favorecidas, por serem constantemente poupadas de agruras, crescem com falta de independência, não aprendem o valor do trabalho árduo e de pensar por si mesmos, falta-lhes confiança.

Gladwell cita estudos sobre escolas e os tamanhos das classes. É sabido que em classes muito numerosas o aprendizado e a performance é pior que nas menores. No entanto, existe um limite para o tamanho mínimo das turmas: com menos de 12 membros, os alunos sentem-se menos motivados a interagir, a aprender e mesmo a competir com os colegas. 

A moral da história na abordagem de Gladwell é que não basta poder, dinheiro ou saúde. Isso não garante o sucesso. Na verdade, todo mundo tem um lado forte, fruto muitas vezes de privações em diversas fases da vida. Cabe a cada um descobrir qual esse lado forte e qual a serventia ou real vantagem que pode tirar dela.

Ou seja, pobre do despreparado, lento e ultrapassado Golias: sucumbiu frente ao poderoso e letal Davi.
 (Não à toa, Davi tornou-se um dos mais importantes reis da historia antiga. Sorte?)

O livro prende, não apenas pela abordagem, mas também pelos detalhes e contextualização históricas. Entretém bastante.

Falando em lado forte, se você tem dúvida ou curiosidade de qual seria o seu lado forte, sugiro a também excelente leitura de Descubra seus Pontos Fortes de Marcus Buckingham. A ideia de domínio de um nicho está bem alinhado com os conceitos de Cauda Longa de Chris Anderson e de Oceano Azul de Mauborgne & Kim.

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